Xiii, Não Tenho Vontade de Orar...


    Um dia desses recebi a carta de um jovem que terminava assim: "afinal de contas, parece mesmo que meu caso não tem solução. Sei que a oração me ajudaria a resolver o problema, mas não tenho vontade de orar. O pior de tudo é que quando oro, acabo tudo o que tinha para dizer em dois minutos. Dá a impressão de que minha oração não passa do teto".

    Já sentiu algo parecido alguma vez? A verdade é que, em todos estes anos trabalhando com jovens, descobri que o problema do jovem não é o fato de não saber que precisa orar. Todo mundo sabe que é necessário orar e que a oração é o alimento da nova natureza. Todo mundo sabe que o poder vem através da oração. A angústia do jovem está expressa na carta da qual falei: "Pastor, não tenho vontade de orar. Sei que tenho que orar mas não consigo."

    O que fazer? É preciso entender, em primeiro lugar, em que consiste a oração: "Orar é o ato de abrir o coração a Deus como a um amigo". Segundo esta declaração, orar, nada mais é do que conversar com um amigo.

    Amigos gostam de conversar. É o que eles mais fazem. Se alguém não tem vontade de conversar com seu amigo não é porque ignore o fato de que amigos precisam conversar. O problema está no relacionamento com o amigo. Alguma coisa está errada. Alguma barreira foi criada. A amizade está abalada e a solução não consiste em ler livros ou ouvir sermões que mostrem o dever de conversar com um amigo. É preciso que lhe ensinem como resolver o problema com o amigo, que se ajudem para que a amizade torne a ser como era antes. Uma vez que o problema tenha sido resolvido, o diálogo com o amigo virá espontaneamente.

    Em segundo lugar é necessário saber que a base de uma conversação entre amigos deve estar fundamentada na sinceridade. Num relacionamento de amigos verdadeiros não há lugar para fingimento ou hipocrisia. Descobrir que alguém é hipócrita com você, dói. Mas descobrir que alguém que você ama muito está sendo hipócrita com você, dói muito mais.

    Cristo nos ama e o que Ele espera em nosso relacionamento é, acima de tudo, sinceridade. É isso que Ele disse no Sermão do Monte: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos." (Mateus 6:7)

    A palavra grega traduzida para "usar vãs repetições" é batalogeo e é usada geralmente para expressar o que faz o papagaio ou o bêbado, ou seja, falar por falar, falar sem pensar no que se está dizendo, falar pelo mero fato de falar.

    O que o Senhor Jesus está querendo nos dizer é que quando conversamos com Ele temos que fazê-lo na base da sinceridade, sentindo realmente o que estamos falando. Ele está pedindo que a nossa oração saia do coração e não simplesmente da boca.

    Quando o meu filho mais novo tinha cinco anos, ele não gostava de comer verduras. Chamava de "planta" a tudo que era da cor verde. Dizia que não gostava de planta.

    Um dia, na hora do almoço, a mesa estava cheia de coisas verdes. Imediatamente o sorriso desapareceu-lhe do rosto. Pedimos-lhe que fizesse a oração e ele orou assim: "Pai, estou chateado. Só tem 'planta' para comer".

    Sabe como talvez ele teria orado se fosse gente grande? Teria agradecido a "gostosa refeição que estava à mesa".

    Aí está o nosso problema. Não somos sinceros. Falamos sempre a mesma coisa porque estamos acostumados a falar assim. Quando levantamos pela manhã agradecemos a Deus a "boa noite de repouso". Podemos ter virado na cama a noite toda ou podemos ter acordado com dor nas costas, mas agradecemos a "boa noite de repouso".

    Temos quase de cor uma oração para as manhãs e outra para as noites. Sempre o mesmo assunto. Podemos estar sem a mínima vontade de orar, mas nos ajoelhamos por disciplina e repetimos a oração costumeira que geralmente não dura mais de dois minutos. E ao deitarmos, experimentamos a estranha sensação de que a nossa oração não passou do teto.

    Por que não encarar a oração como a maravilhosa experiência de conversar com Jesus Cristo, em lugar de considerá-la o nosso dever de cada dia?

    Você tem amigos? O que fala com eles? Fala sempre a mesma coisa ou muda o assunto do diálogo cada dia? Já pensou na possibilidade de bater um "papo à toa" com Cristo? Conversar com Ele simplesmente pelo prazer de conversar? Orar sem pedir nada, apenas para contar coisas, contar segredos, abrir o coração e relatar para Ele tudo o que fez durante o dia, mesmo que pareçam coisas sem importância?

    O dia em que descobrirmos a alegria de falar assim com Deus, teremos descoberto o segredo de uma vida poderosa. E andar com Deus é isso.

Sei que tenho de Ler a Bíblia, mas não tenho vontade...



"Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. (S. Mateus 4:1-4)

    "Pastor", você deve estar pensando, "já sei, o senhor vai falar do estudo da Bíblia. Eu sei que devo estudá-la, mas não tenho vontade, não sinto prazer na sua leitura".

    Em primeiro lugar, meu amigo, não encare a leitura da Bíblia como um dever. Olhe para a Palavra de Deus como uma carta de amor. O que faz um jovem quando recebe uma carta da namorada? Ele pensa: "Oh! que chato, não tenho vontade de ler esta carta, estou cansado, mas vou dar uma olhada nela por disciplina?" Acho que não é isso que acontece. Acontece justamente o contrário. Ele recebe a carta com expectativa, abre-a depressa e devora com ansiedade cada uma das palavras. E o que mais? Joga-a fora? Não. Guarda-a no bolso. Dois minutos depois tira a carta do bolso, torna a lê-la e guarda-a novamente. Não espera passar cinco minutos, procura-a de novo e a lê com a mesma ansiedade da primeira vez. Faz isso muitas vezes. De repente, já não precisa ler, decorou-a completamente. Mas mesmo assim, continua lendo-a.

    Onde está o segredo? Por que tanta ansiedade para ler a carta? Por que não se cansa de fazê-lo? A palavra chave é "amor". O jovem ama a pessoa que escreveu a carta.

    A Bíblia, meu amigo, não é um código de normas e proibições. Não é um compêndio de histórias de um povo errante. Ela não é um volume de medidas, nomes e cores. Não é um livro de animais estranhos e simbolismos proféticos. A Bíblia é a mais linda carta de amor que já foi escrita. É a história de um amor louco e incompreendido. É a história de um amor que não se cansa de esperar. É uma declaração de amor escrita com a tinta vermelha do sangue do Cordeiro. Desde o Gênesis até o Apocalipse há um fio vermelho atravessando cada uma de suas páginas. É o sangue de Jesus gritando desde o Calvário:

    – Filho, Eu amo você, você é a coisa mais linda que Eu tenho.

    Na Bíblia você pode achar também a história da vida de outros homens semelhantes a você. Homens que experimentaram conflitos e tentações. Homens que às vezes caíram e escorregaram. Homens e mulheres que lutaram contra seus temperamentos, complexos e paixões, mas que venceram. Através dessas histórias, Deus está dizendo a você:

    – Filho, você também conseguirá, não desanime, olhe para a frente e continue.

    Ler a Bíblia é uma maneira de alimentar a nova natureza e manter comunhão com Jesus. Mas também, como em muitas outras coisas, o grande inimigo da vida cristã é o formalismo.

    A leitura mecânica da Bíblia não tem muito valor como alimento da nova natureza. A leitura da  Bíblia  tem que ser um momento de companheirismo e  diálogo com o seu Autor. Você lê um versículo e medita nele. Trata de aplicar a mensagem desse verso a sua vida. Pergunte a você mesmo: "O que este verso está querendo falar para mim?" Depois disso fale para Deus o que você acha de tudo isso. Conte-lhe como está indo sua vida comparada a mensagem que você acaba de ler. Não tenha pressa. Trate de "saborear" cada minuto de seu diálogo com Jesus. Não veja isso como um dever ou como uma carga pesada para carregar, e sim como o encontro com as maravilhosas promessas de Deus para você.

A Noiva



Numa época em que o meio de transporte mais usado ainda eram as locomotivas, um casal de jovens se conheceram e se apaixonaram com grande ternura. Porém existia uma diferença entre eles: o rapaz era pobre e lutava com esforço para sobreviver; a moça era rica e cheia de bens materiais. Seu pai era fazendeiro muito rico e dono de várias terras.
Um certo dia o rapaz disse à sua amada:
— Preciso viajar. Vou até aquela cidade que tantos falam que faz muita gente prosperar. Sei que certamente irei conquistar nosso futuro lá.
A moça se entristeceu em seu semblante às vistas do rapaz. Ele esboçou um sorriso e abriu a palma da mão esquerda. Os olhos da jovem brilharam ao ver uma grossa e vistosa aliança de noivado.
— Lutei muito para comprar este anel para te dar. Sei que assim não você não irá se esquecer de mim e vai saber que não te esqueci.
— Não vou te esquecer — falou a moça.
Ele sorriu novamente, esperançoso. Falou:
— Irei para aquela cidade e logo que me firmar lá mandarei um telegrama escrito onde estou e que podes viajar para lá e me encontrar.
— Ficarei esperando ansiosamente o telegrama — ela disse.
Seis meses se passaram. Os dois se comunicavam apenas através de cartas. A moça continuava sua vida de luxo ao lado de sua família, enquanto o jovem lutava na cidade grande, empregado numa metalúrgica, buscando uma vida melhor para um futuro casamento. Até que um dia ele foi promovido por sua competência e incessante busca por aprimoramento no trabalho. Seu patrão lhe disse:
— Não posso mais deixar você onde está, pois merece estar num cargo mais elevado. — então o colocou como supervisor da fábrica e mais tarde o escolheu para viajar à outra cidade para implantar nova fábrica. A notícia transformou-o no homem mais feliz do mundo. Enfim chamaria sua amada.
Após os últimos acertos para a viagem de inauguração, o rapaz escreveu o telegrama para sua noiva na cidade pequena:
Minha querida,estou escrevendo para pedir-lhe que venha omais rápido possível. Fui promovido para gerente de uma nova loja que iremos inaugurar depois de amanhã. Sei que há um trem saindo amanhã de manhã da cidade. Tem que pegar este, pois só assim dará tempo de chegarmos juntos ao local da inauguração. Estou louco para tê-la ao meu lado para, enfim, nos casarmos.
Com o telegrama nas suas mãos, ela leu ainda as últimas linhas onde constava o endereço dele. Ela sorriu e chamou suas criadas para ajuda-la a arrumar suas malas.
Na manhã seguinte se despediu do seu pai e de sua mãe, esta, em prantos, disse:
— Você tem certeza de que quer ir, mesmo, minha filha? Não sabe se realmente ele conseguiu uma vida melhor pra você. E se ele estiver mentindo?
— Tenho que confiar nele, mamãe.
Após o capataz ter colocado toda a bagagem da moça (ao todo nove malas grandes e repletas de roupas e jóias de valor) sobre a carruagem o pai deu-lhe ordem para levá-la até a estação. Chegaram lá atrasados, e quase não acreditaram quando viram tanta gente na estação para pegar aquele trem. Por que não reservei as passagens? Resmungou ela consigo mesmo.
Os senhores fardados com o uniforme da companhia anunciaram em voz alta que dentro de poucos instantes o trem estaria partindo.
— Depressa! — urrou ela para o empregado — Temos que colocar as bagagens no trem antes que ele parta!
Com todo esforço de capataz fiel, o homem que a acompanhava baixou toda a bagagem da filha do seu patrão e as colocou próximo ao trem. Já coberto pelo suor e exausto ele chamou um dos homens fardados que conferiam as passagens daqueles que subiam no trem. Quando o homem fitou a quantidade de bagagem que a jovem trazia ele abanou a cabeça negativamente. Falou a ela:
— Será impossível subir no trem com toda esta bagagem, senhorita.
Sinto dizer que terá de levar apenas duas destas.
— O quê. Não pode ser, meu senhor…
— Infelizmente pode. Há muitos passageiros hoje e também muitas bagagens, a ponto de impormos uma cota de duas malas por pessoa, apenas.
Por isso, se quiser viajar neste trem terá que levar apenas duas malas.
A moça olhou para toda a sua bagagem e pensou em toda as roupas e jóias que continham nelas. Lembrou do que a mãe lhe dissera: Não sabe se realmente ele conseguiu uma vida melhor pra você. E se ele estiver mentindo?
Ela estava preparada se ele estivesse mentindo. Estaria levando jóias e roupas que venderia se fosse o caso, mas agora, com apenas duas malas… Não seria suficiente.
Os homens uniformizados gritaram a última chamada. O trem já iria partir. A jovem então deu a ordem para o capataz:
— Pegue as malas e coloque-as de volta na carruagem. Eu… eu vou ficar.
No dia seguinte um telegrama chegou às mãos da moça.
Estava escrito:
Minha querida,estou escrevendo para pedir-lhe que não me procure mais. Meu amigo que recolhe passagens me disse que você preferiu ficar com suas bagagens a ter de me encontrar sem elas. Não o culpe nem o chame de fofoqueiro, pois fui eu mesmo que pedi para que ele inventasse a história da cota das bagagens. Queria ter certeza de que me amava de fato e verdade mais do que as riquezas desta vida a que estava tão acostumada. Infelizmente pude ter a comprovação de que não. Adeus.
No ano seguinte um jornal local publicou a foto daquele jovem sendo considerado um dos homens mais influentes do país, e ainda trazia o anunciado de que se casaria com a filha do dono da empresa que dirigia.
Jesus fala que não devemos ter amor às coisas deste mundo nem nos conformar com elas (Jo 12:25 e Rm 12:2) (bagagens), mas devemos segui-lo, ir após Ele (Lc 9:23), pois Ele não nos deixará órfãos (Jo 14:18) ou sem destino certo (Jo 14:6). Ele cuidará de nós e nos sustentará.
Não ame mais as bagagens deste mundo do que o Noivo. O trem já está prestes a partir. O que você irá escolher?
Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos daqui levar; (I Tm 6:7)

Fique em Pé ante a Provação



Havia em uma faculdade um professor ateu, que durante vinte anos ao final de cada semestre de estudos ele sempre fazia a seguinte indagação:
— Fique de pé quem acredita na existência de Deus.
Como se não bastasse, ele fazia o seguinte desafio:
— Eu vou jogar este giz no chão se Deus realmente existe impedirá que ele se parta.
Assim foi se repetindo semestre após semestre, um jovem cristão sabendo disto, ficou preocupado por saber que teria de passar pela disciplina daquele professor para se formar.
Durante os três meses antecedentes aquela disciplina, o jovem cristão orou a Deus pedindo-lhe coragem para ficar de pé no final do próximo semestre. Findou o semestre e o professor pondo-se de pé diante a uma sala repleta fez a mesma pergunta que vinha fazendo há vinte anos. O jovem cristão se levantou. O professor ficou nervoso e começou a insultar o aluno, chamando-o de estúpido, bobo e até o chamou de burro. O professor furioso levantou giz e disse:
- Se Deus realmente existe impedirá que o giz se parta.
Quando ele foi lançar o giz, o mesmo se resvalou por entre seus dedos, entrou na manga do guarda-pó descendo por seu corpo. Entrou na calça descendo até sair por cima do sapato rolando intacto pelo chão.
O professor abaixou a cabeça e saiu correndo sem dizer nada, o aluno (corajoso cristão)que continuava em pé foi à frente e falou durante meia hora de sua fé.
Reflita, pare pra pensar na coragem que foi exigida daquele jovem, mediante a uma difícil situação, coragem que foi lhe concebida por Deus.
Que possamos aprender com este jovem, também com os três jovens Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que ficaram em pé diante da estátua de Nabucodonosor, arriscando suas vidas.
Muitas vezes mediante as provações para sermos vencedores apenas temos que ficar em pé, que o mais Deus fará.

Texto Bíblico Daniel 3:1-28.

O Gato Feio


Todos no prédio de apartamentos onde eu morava sabiam quem era o Feio. Feio era o gato vira-lata do bairro.
Feio adorava três coisas neste mundo: brigas, comer lixo e digamos, amor. A combinação destas três coisas, adicionada a uma vida nas ruas, tinham causado danos em Feio.
Pra começar, ele só tinha um olho, e no lugar onde deveria estar o outro olho, havia um buraco fundo. Ele também havia perdido a orelha do mesmo lado, e seu pé esquerdo parecia ter sido quebrado gravemente no passado, e o osso curara num ângulo estranho, fazendo com que ele sempre parecesse estar virando a esquina.
Feio havia perdido a cauda há muito tempo, e restava apenas um toco de cauda grosso, que ele sempre girava e torcia.
Todos que viam Feio tinham a mesma reação:
— Mas que gato feio!!
As crianças eram alertadas para não tocarem nele. Os adultos atiravam pedras nele, jogavam-lhe água com a mangueira para espantá-lo, o enxotavam quando ele tentava entrar em suas casas, ou imprensavam suas patas na porta quando ele insistia em entrar.
Feio sempre tinha a mesma reação. Se você jogasse água nele com a mangueira, ele não saía do lugar, ficava ali sendo ensopado até que você desistisse. Se você atirasse coisas nele, ele enroscava seu corpinho magricela aos seus pés, pedindo perdão. Sempre que via crianças, ele surgia correndo, miando desesperadamente e esfregando a cabeça em todas as mãos, implorando por amor.
Quando eu o apanhava no colo, ele imediatamente começava a sugar minha blusa, orelhas, ou o que encontrasse pela frente.
Um dia, Feio quis dividir seu amor com os huskies do vizinho. Eles não eram amistosos e Feio foi ferido gravemente. Do meu apartamento eu ouvi seus gritos e corri para tentar ajudá-lo. Na hora em que cheguei onde ele estava caído, parecia que a triste vida de Feio estava se esvaindo...
Feio estava caído em uma poça, suas pernas traseiras e suas costas estavam totalmente disformes, um corte fundo na listra branca de pêlo atravessava seu peito.
Quando eu o apanhei e tentei levá-lo para casa, ele fungava e engasgava, podia senti-lo lutando para respirar.
Acho que o estou machucando muito, pensei.
Então, eu senti a sensação familiar de Feio chupando minha orelha – em meio a tamanha dor, sofrendo e obviamente morrendo, Feio estava tentando sugar minha orelha.
Eu o puxei para perto de mim e ele esfregou a cabeça na palma da minha mão, olhou-me com seu único olho dourado e começou a ronronar. Mesmo sentindo tanta dor, aquele gatinho feio, cheio de cicatrizes de suas batalhas, estava pedindo um pouco de carinho, talvez alguma comiseração.
Naquele instante, achava que Feio era o gato mais lindo e adorável que eu já tinha visto. Em nenhum momento, ele tentou me arranhar ou morder, nem mesmo tentou fugir de mim, ou rebelou-se de alguma maneira. Feio apenas olhava para mim, confiando completamente que eu aliviaria sua dor.
Feio morreu em meus braços antes que eu entrasse em meu apartamento.
Eu me sentei e fiquei abraçado com ele por muito tempo, pensando sobre como este gato vira-lata deformado e coberto de cicatrizes havia mudado minha opinião sobre o que significava a genuína pureza de espírito e sobre como amar incondicionalmente. Feio me ensinara mais sobre doação e compaixão do que qualquer ser humano.
E eu sempre lhe serei grato por isto.Chegara a hora de eu seguir em frente e aprender a amar verdadeira e incondicionalmente. Chegara a hora de dar meu amor para aqueles que me eram caros, mesmo que meus olhos nunca tivessem visto nenhum deles ...
As pessoas acham mais fácil e mais prazeroso amar o belo, o perfeito, sem notarem que os feios, os tortos, os mancos, enfim os deformados sejam de corpos, mentes ou almas, também podem e merecem serem amados...
Se vocês pudessem avaliar ou sentir como é quente e gostoso o abraço de alguém feio e antipático, de alguém deformado e que foge as regras e padrões de beleza... Se vocês se permitissem essa sensação, talvez entenderiam e veriam os tantos "gatos feios" que a vida lhes coloca diante dos seus olhos todos os dias e vocês se negam a enxergá-los ...
Muitas pessoas querem ser influentes, querem acumular dinheiro, querem ser bem sucedidas, queridas, simpáticas ou belas...
Quanto à mim, eu sempre tentarei ser como o Feio...
Passarei minha vida pedindo amor, mendigando um pouco do seu tempo, esperando pelo seu carinho, contando com sua compreensão, e pacientemente aguardando o dia de ser devorado pelos huskies…
Se tiver sorte terei alguém que me pegue no colo e me faça um carinho antes do meu último suspiro...

Nota:
Neste mundo cheio de intolerâncias devemos espalhar mais respeito aos demais, sejam eles da mesma raça, mesma religião, mesma etnia que nós, ou não, sejam feios ou bonitos aos nossos olhos tão desacostumados a ver, ou nossos ouvidos, que ainda não aprenderam a ouvir a real mensagem de Deus.
Que Deus abençoe a sua vida e a encha de amor incondicional ao próximo.